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quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Arte, Ciência e Filosofia como meios de expressão da Dialética

O que há de análogo entre Lulu Santos e Karl Marx? Bom, guardadas as devidas proporções, ambos convergem numa mesma conclusão através de caminhos diferentes. Marx, por meio de relevantes observações no campo da filosofia política, chegou a várias idéias, seguidas por muitos até hoje. Dentre elas o Materialismo Dialético que apresenta uma espetacular relação entre o devenir humano e as lutas de classe ao longo da História. Já Lulu Santos em sua música “Como uma onda”, composta com Nelson Motta, utiliza a arte para expressar uma filosofia dialética. Apesar de ambos terem vivido em contextos bem distantes e utilizado linguagens e meios distintos para expor suas reflexões, a dialética serviu de fundamento para suas análises.
Com a mesma, podemos nos dar conta de que tudo está em constante mudança de acordo com o princípio de que todo argumento apresenta o germe da sua própria negação e, por isso, a qualquer momento pode ser derrubado por outro mais elaborado baseado na relação tese- antítese-síntese. Isto vale para qualquer coisa material ou imaterial, a tendência é que tudo se modifique no tempo e espaço e dê lugar a algo diferente. A humanidade está em constante metamorfose de idéias, valores e costumes, um exemplo foi a Revolução Francesa, com a ascensão da burguesia e declínio da nobreza com os seus privilégios.
Mudanças trazem conseqüências em todos os âmbitos e são a base da esperança comunista. Se essa esperança tem fundamento, só a história poderá dizer, no entanto, é fato que a sociedade, o modelo econômico e político atual não devem ser constantes pelo caráter fortemente mutável que é inerente ao homem. Marx acredita, ao observar cronologicamente os modos de produção ao longo do tempo, que essa sociedade formada pela classe dominante (burguesia) e dominada (proletariado) dará lugar a uma sociedade igualitária. Se a próxima revolução vai acontecer dessa forma, não sabemos, só podemos afirmar que ela vai acontecer de acordo com a conveniência de um grupo social e quando o paradigma atual estiver intolerável. Todavia, Marx pensou também num modo de promover essa mudança, que se baseia na mobilização das classes reprimidas, formadas pelo proletariado, e no rompimento da alienação presente na divisão do trabalho e na mais-valia. Em contrapartida, a burguesia trata de controlar os meios de comunicação e manter a alienação oriunda da primeira Revolução Industrial. Dessa forma, os dominantes procuram inibir a ânsia por dignidade do povo e restringem a frase de Marx presente no manifesto comunista, “Proletários de todo o mundo, uni-vos!”, às academias. Nesse jogo ideológico, a história vai sendo traçada por nós, sujeitos modificadores de conjunturas.
Da mesma forma que a dialética serve de amparo para as esperanças comunistas, também pode basear uma análise mais genérica como a feita por Lulu Santos. Em sua música, o artista utilizou uma metáfora para ilustrar as inevitáveis mudanças que passamos. O mar com suas ondas foi o cenário para a observação e, dessa forma, a música, com sua linguagem poética, pode tratar de temas de foro tão interno. Outro exemplo que me veio à mente é a canção “Não vou me adaptar”, de Arnaldo Antunes, cuja abordagem é mais direcionada para a auto-análise do autor. A música é mais um interessante meio de exteriorização das observações humanas e, a partir dela, podemos obter conclusões sobre temas complexos tratados de forma mais simplificada e subjetiva.
Tanto com a linguagem artística quanto com a científica, nos damos conta de que podemos visualizar os contextos e nos tornar mais críticos, ponderando assim a veracidade dessa realidade passada para nós nas constantes revoluções que vivenciamos. É por essas e outras que é inegável o fato de que tudo é fonte de conhecimento. Cabe ao homem aproveitar.